Foi o primeiro livro que li de José Saramago por alturas do 12º ano.
Ao início, como seria de esperar, custou-me um pouco apreender o modo de escrever de Saramago. Mas com um tempo aquilo foi ao sítio.
Este livro relata a história da construção do convento de Mafra sobre o olhar de amor entre Baltazar e Blimunda.
Baltazar, maneta da mão esquerda (como Deus), perdida em combate para os lados de Espanha (Deus terá sido noutra ocasião), é um jovem humilde e trabalhador, que regressou inválido a Lisboa. Onde na altura decorria uma procissão do Santo Ofício.
E foi neste momento que conheceu Blimunda, que assistia impotente ao julgamento da sua mãe, acusada de bruxaria.
Por indicação última da mãe, Blimunda junta-se a Baltazar e a partir daqui, partilham juntos, todas as peripécias da vida. Da mãe herda o poder de ver o interior das pessoas, quando em jejum. Poder esse que prometeu a Baltazar, não lhe seria aplicado.
Baltazar e Blimunda são incumbidos pelo padre Bartolomeu Lourenço, conhecido dela, de terminar a passarola que este tencionava criar, cumprindo-se um dos seus sonhos que era voar.
Mas toda esta história começa com a infertilidade de D. João V e D. Maria Ana Josefa, que para acabar com o infortunio e por sugestão do frei António de S. José, prometeu construir um convento na vila de Mafra se a rainha lhe desse um filho.
Depois, sabe se lá por que intercedimentos (?), a rainha acaba mesmo por engravidar e dar à luz um filho. E D. João V, fiel ao seu compromisso, por temer a justiça divina e por ter os cofres do reino cheios de ouro brasileiro, manda edificar um convento em Mafra. Inicialmente queria uma obra igual à basílica do Vaticano, mas depois aconselhado atendeu a construir uma coisa mais pequena e que lhe desse a possibilidade de a ver construída. É que o rei já não ia para novo.
E é assim que Saramago nos descreve a construção megalómana do Convento de Mafra, os custos materiais inerentes, os custos humanos pagos com a vida, os custos nacionais pagos com a mobilização masculina global naquele pedaço de Mafra. Isto tudo através da óptica de Baltazar e Blimunda, sobre o seu amor e sobre a construção da passarola que eles ousaram construir e pôr a voar através da reunião das vontades.
É caso para dizer, adulterando a célebre frase de Fernando Pessoa, outro Grande Português (não como o outro):
O Homem sonha, tem vontade, a Obra nasce.